Lá em casa

Lá em casa não temos estantes para colocar acessórios de decoração, temos estantes para livros. Lá em casa só temos uma cortina e é para proteger os livros. As restantes deixam entrar o sol e o mar ao fundo. Sempre morei com vista para o mar e só agora notei que ele não acorda todos os dias com a mesma cor. É bom poder reparar nas cores. E as lá de casa trazem um bocadinho do mar para a sala. A cozinha é contra a tendência do branco. E eu adoro o preto! Tem espaço para organizar, para todos os preparados que entendermos, para caixotes grandes de reciclagem. Usamos menos sacos de papel e de plástico e mais de pano. Reutilizamos os sacos das compras, mesmo os transparentes da fruta e dos legumes. Vamos menos ao supermercado e, assim, usamos menos embalagens. Algum do lixo biológico vai para compostagem. Colocamos uma mesa de cabeceira na casa de banho de serviço porque calhou e agora adoramo-la lá. Com uns quantos quadros na parede e ficará perfeita. Há brinquedos em lugares ideais para pessoas de meio metro, e é bom que a criança lá de casa os explore tão bem. No quarto não há mesas de cabeceira e eu adoro dormir de estore aberto para ver o mar ao acordar. Temos uma luz de intensidade variável na casa de banho porque eu sou um bocadinho vampiro e não gosto e luz antes de dormir. O móvel azul da entrada está com preço de pechincha no Ikea porque tem uma cor berrante e ninguém lhe pega. Eu adoro-o cada vez mais. Mas do que mais gosto é de não ter decidido tudo isto de uma vez só. A ideia inicial não seria tão boa! A construção e as ideias novas que vão surgindo fazem muito mais sentido à loucura que passa pelas nossas cabeças.

Opção de Escolha

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A decoração da casa está parada. Percebemos que tínhamos tudo o que precisávamos e estava na hora de investir noutras coisas: em poupanças e em viagens. Temos um monte de molduras e muitas ideias para começar a decorar o branco das paredes, mas há todos os dias tantos afazeres que ainda não dedicamos tempo a isso.

Entre os detalhes em falta, há apenas uma coisa que já deveria ter sido feita. O armário do quarto tem poucos varões e precisa de ser otimizado. Como ainda não está prontinho a receber toda a minha roupa, ainda tenho 80% das minhas coisas em casa dos meus pais. Ontem estava a arrumar a roupa que tenho e não gostei da pouca coisa que tenho por lá. Não que me falte algo, não que precise de mais roupa do que a que tenho usado, mas gosto de ter opção de escolha. A minha criatividade precisa de opções.

Gosto de ter mais do que um caminho como opção, mesmo que escolha o mesmo quase todos os dias. Mas a ideia de poder decidir e mudar de quando em vez é bom, sabe-me bem e tira-me do aborrecimento da rotina. Gosto de ter tintas de várias cores, livros de vários estilos, malas de várias cores. Gosto de ter diferentes opções no frigorífico e várias cores na caixa de vernizes, ter diferentes tecidos e linhas de todas as cores. Nunca tinha pensado nisto, mas concluo que por muito que acabe a ter rotinas bastante rígidas, ter opção deixa-me mais realizada. Acho que a opção permite-me ter vibes criativas tantas vezes quantas quiser. E isso é bom!

O temporizador e a lavandaria

Morar num T1 é giro, fácil de arrumar e mais provável de não ser necessário um berro para comunicar de uma ponta da casa para a outra. Mas, há um grande mas. A tralha que inevitavelmente se acumula entre cozinha, escritório e lavandaria co-habita com o lugar onde se pára para um bocadinho de lazer.

Agora já não é nada assim. Já não tenho o estendal escarrapachado em plena sala, que também é cozinha e escritório. Agora, está cada coisa no seu lugar e o caos da roupa fica na lavandaria. Enfia-se tudo para lá e pronto, assunto resolvido.

Por outro lado, é péssimo para comunicar (às vezes nem com bons berros a coisa vai lá) e para limpar, uffff, a tarefa é bem árdua! Mas não pensemos nisso. Até porque há outras facilidades. Há espaço para caixotes que separam a roupa e facilitam as lavagens. Espaço para detergentes, roupas lavadas e dobradas e mesmo para as outras, sem dobrar. O estendal arruma-se junto ao teto e voilá, o espaço multiplica-se. Adoro a lavandaria.

Nos últimos dias tenho-a adorado ainda mais. Decidi experimentar a o temporizador da máquina de lavar roupa. Como não temos tarifa bi-diária no plano de eletricidade, achava um bocado inútil. Mas não é. Pondo a máquina a lavar de forma a terminar na altura em que chego a casa, não há preguiça, cansaço ou maleita que me possa desculpar. Não há “ooohhh, já não há tempo para lavar”, nem “estou tão cansada”. A roupa está lavada e não pode ficar noite adentro encolhida e molhada. E sabem que mais? É mesmo eficiente! Obriga-me a apanhar a roupa do estendal. Depois, como não vai ficar para ali ao monte, a dobrá-la. E estou, FINALMENTE, credo, quase sem roupa por lavar. Haja milagre, milagrezinho!

Já disse que adoro a lavandaria? E que o temporizador da máquina é a melhor invenção do século?

Onde anda a cabeça?

O carpinteiro já cá veio terminar o trabalho e os 5 bolbos que plantei estão a dar trevos de quatro folhas. Ah, sensação boa de etapa terminada.

Falta só pôr as roupas que por aí andam em ordem e está tudo bonitinho, limpinho e no seu lugar. Os planos para a noite são simples: cozinhar, roupas e um pouco de trabalho. Ao chegar à cozinha há água a espreitar de um canto. Não podia ser coisa boa. Arrastei o frigorífico, vi a inundação que para ali ia. Limpei. Percebi a fome que tinha e decidi encomendar uma pizza. Pus a roupa mais urgente na máquina de secar e continuei a limpar. Percebi que havia água até à outra ponta da cozinha. Deixo cair uma moldura que se parte. Desespero. Abro a porta para a pizza e enfardo-a a mil à hora. Tomo um banho, faço com que o varão da cortina caia, caio eu ao tentar colocá-lo e desisto. Lavo os dentes, sento-me ao computador e percebo as horas. Decido dormir com tudo como está, assim mesmo.

Há roupas em cima da mesa, mantas por dobrar, águas por limpar e lixos por levar. Mas não faz mal, preciso de começar a semana sem sono e acordar sozinha.

Bem,  a verdade é que sairei tarde para o trabalho, deixarei o carro em Gaia e sigo de metro. Ao final do dia, vou fazer a rotina normal de regresso. Metro e comboio. Ficarei sem bateria no telemóvel e irei aperceber-me que deixei o carro em Gaia, acabarei por decidir apanhar um táxi para não me atrasar no destino.

É um estado de meio abananada, enfim. Há dias em que a minha cabeça não acorda em cima dos meus ombros. Deve andar por aí nos ombros de alguém sem trabalho. É literalmente um desses dias. A minha esperança é que se tenha cansado do passeio e esteja de regresso.

Viver num Apartamento

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Como dizia no outro dia, adoro a casa, não alterava nenhum dos projetos – NENHUM – e os móveis que compramos, os baratos e os caros, os novos e os em segunda mão parecem todos feitos para este lugar. Mas, há sempre um mas, às vezes dou por mim a pensar que não me imagino a morar num apartamento a vida inteira. Um dos motivos é não poder dar um berro de uma ponta da casa para a outra. A sério, faz-me falta. Cresci a gritar por pessoas que não via, “oh mããããããããããããe! oh paaaaaaaaaaaiii!” e do outro lado vinha um “siiiiiiiiiiiiiiim” com os mesmos decibéis. No apartamento já dei por mim a dizer a alguém “baixo, por favor”, olhei para mim própria e reprovei a atitude. Não sou pessoa de apartamento, sabem? Bem, entretanto descobri que há um doente pelo belo do FCP aqui mesmo por cima. Sim, eu até simpatizo com futebol e com o clube em particular, mas não tolero a irracionalidade da doença pelo mesmo. Que as pessoas vivam a coisa, fiquem felizes, que bom, muito bem. Mas quando isso roça o insulto, quando os nervos se apoderam delas, só me parece ridículo. Então pronto, levar com este tipo de situações do vizinho de cima incomoda-me! E incomoda-me também que o vizinho de baixo venha reclamar da substituição da janela a um sábado de manhã porque “os filhos se deitaram às 7h”.

Bem, além desta sensação de falta de independência e invasão por todos os lados – e eu sou bastante dada à independência para que conste, há mais uma coisa. Aquilo de sair de casa, mas ainda não ter saído mexe-me com os nervos. Quando “vou só ali ao carro buscar o telemóvel que me esqueci”, implica chamar um elevador, perceber que ele vai demorar mais de cinco segundos, decidir descer cinco andares pelas escadas, levar com os olhares reprovadores dos vizinhos porque ninguém mora no quinto andar e usa as escadas, chegar ao fundo, resolver o assunto e ter de fazer o percurso inverso, faz-me parecer que moro algures na Islândia. Parece parvo? Talvez seja, mas é perca de tempo, sensação de algo errado, sei lá.

Depois penso em pôr o apartamento à venda a um preço que me renda dinheiro e me permita dar o salto para a bela da casa. Mas depois penso em tudo o resto, no escalar de trabalhos, na localização e em todas as outras pseudo-vantagens de apartamentos. Lembro-me que a minha vida precisa de um pouco de sossego e vou trabalhar. Bem… o trabalho é sempre um bom escape à minha inquietude.

Já me mudei!

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Há coisa de um mês que durmo (quase) sempre na casa nova. Tem sido muito animado. Houve uma carrada de festas e ainda não tínhamos comprado cadeiras para todos os rabos que se queriam sentar por cá. A árvore de Natal só foi terminada no dia de Natal, houve uma manhã sem janela e as obras e mudanças têm sido muito lentas. Isto de pedir a um que venha, a outro que venha, procurando custo/qualidade perde no tempo. Estamos felizes com a maioria do trabalho que tem sido feito, mas a cada mudança percebemos outras trezentas coisas que queremos fazer. Ao mesmo tempo temos os projetos todos já pensamos e é de uma gestão muito difícil. Porquê? Antes de mais porque reconhecemos ter tudo o que precisamos para morar cá. Faltam as melhorias e os pequenos e grandes luxos. Falta terminarmos o investimento na melhoria da eficiência energética. Mas nada que seja um ponto de sobrevivência. E por isso, não se justifica ficarmos na penúria. As poupanças foram à vida com a compra da casa, mas há que retomá-las. É um dos objetivos para 2018: fazer as 300 viagens e as 300 compras em lista de espera sem comprometer as poupanças!

Televisão

CapturarDisse a um miúdo de 16 anos que não vejo televisão há 2 anos. Não é totalmente verdade porque vejo séries no computador e porque me esforço veemente por ver televisão. A surpresa dele era pressuposto garantido. Mas deixou-me a pensar. Porque raio é que ainda me esforço por ver televisão?

Encontrei dois motivos: estar atualizada quanto ao que se fala sobre um tema e relaxar. A televisão já não é a maior realidade no que toca a media, mas continua a incluir muita cultura geral. Fazendo uma distinção entre o que vale a pena dar uma espreitadela e o que não é mais do que lixo e poluição para o cérebro, é giro e até pode ser útil. Por outro lado, é um descansar de cérebro. Parar, beber um chá e ver televisão. Talvez melhor do que ler um livro neste ponto, porque o livro tem a componente de atenção necessária e da releitura das mesmas páginas dezenas de vezes quando adormeço a lê-las.

Agora que comprei uma televisão grande para a casa nova, antes de ir dormir sento-me sempre no sofá na tentativa de ver qualquer coisinha. Lá ando a vasculhar pelos canais todos e pela box, invariavelmente percebo que são muito poucos os programas que preenchem requisitos mínimos, seleciono um, ou Youtube quando nada me agrada, e fico ali a ver. A coisa acaba sempre da mesma forma: comigo a dormir. Há uma variante, comigo e com o Pedro a dormir, mesmo que o Pedro só cá esteja há uns dias.

Com isto concluo que tenho um sério problema no que toca a televisão. Vejo-lhe algum valor, mas não tenho tempo nem energia para disfrutar dela.

Já disse que quero que a minha televisão dure, pelo menos, 56 anos?

3 Coisas giras para a Casa Nova

Neste percurso giro que é decorar e recuperar uma casa, tem sido beeeem divertido ver e ouvir as reações aos meus devaneios/ideas fixas, chamem-lhe o que quiserem. É qualquer coisa que varia entre o “esquisitinha”, “muito exigente”, ares estranhos perante candeeiros que são arames, perante armários azuis e mais um sem fim de tratamentos que eu adoro. 

Entre as coisas mandadas fazer, as compradas, as emprestadas e as dadas, comprei no IKEA,  três coisas, que destaco hoje.

  1. Um candeeiro puramente escandinavo, que cai sob a secretária e fica bem no meio do escritório. Custou 17 euros e tem de nome BRUNSTA.
  2. Os copos de água. São do IKEA também, mas acho-os tão bonitos que passam facilmente por peças de autor. 1,50 euros cada IVRIG.
  3. O móvel para a entrada. Adoro, adoro, adoro! É azul, meeeesmo azul. Queria qualquer coisa que animasse a entrada e não fosse demasiado largo, mas tivesse muita arrumação (acho as consolas um desperdício de espaco,). Encontrei-o na app do IKEA quando ainda não estava em loja, nem em catálogo. Mandei ao Pedro, disse-lhe que adorava, mas que achava ser um devaneio. Ele, surpreendentemente, não exerceu o seu poder de veto e apoiou. Eu comprei e estou rendida. A cor, a qualidade, a elegância. Ainda vai ter direito a puxadores bem fancy, assim que eu tiver ter tempo (lá para 2020). Armário mais lindo de sua dona! É da gama Nordli e custou 149€.

Pintar azulejo – parte 1

Entre as várias coisas chatas que uma casa usada e com alguns anos tem, estão os materiais usados na construção. Ora estão ultrapassados e fazem-nos descrer do sentido estético de quem os escolheu, ora não são de todo ao gosto dos novos moradores.

Na nossa casa, há uma série de problemas a esse nível. Os azulejos das casas de banho não são uma escolha muito feliz e na casa de banho mais pequena, a coisa tende a piorar drasticamente. É um dos assuntos a resolver no futuro, mas não foi o primeiro passo no que toca a reforma de paredes. Por outro lado, comecei pela lavandaria. Também ela com azulejos, situa-se numa pequena marquise com vista para o mar. O azulejo rosado, com muitos cantinhos partidos, muitos pormenores que saltam à vista, foi o meu primeiro alvo.

Comecei a pesquisar as opções que tinha. Há soluções para pintar azulejos para vários preços e objetivos. Se se tratar de uma casa de banho ou de uma cozinha, em que a humidade é uma constante, é necessário um acabamento que o permita. Já no caso da lavandaria pude optar pela solução mais em conta e pintar mais ou menos como se de uma parede em cimento se tratasse.

Lixar, melhorar o aspeto de rachadelas e buracos desnecessários, aplicar um primário que cubra tudo, inclundo as juntas, e adira bem ao azulejo, e terminar com um acabamento lavável, com as camadas que forem necessárias.

O trabalho está quase prontinho e embora todos os defeitos que um trabalho de amadores possa ter, o que mais me incomoda agora é a má pintura do teto, impossível de notar antes, o mau acabamento do isolamento da janela e a cor beje-sujo-velha do parapeito da janela.

Mas como até tenho uma certa paixão pelos defeitos da parede, não faz mal. É uma espécie de nostalgia por todas as horas passadas a transformar aquele espaço. Os “defeitos” são histórias quando feitos por nós e a decoração não vai deixar que nada se note. 

O parto complicado do Crédito à Habitação

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Pensamos em comprar uma casa muito antes de pensarmos quando voltaríamos a Portugal (podem ler aqui e aqui). Um ano antes da coisa acontecer, fui abordando a situação com o banco para perceber como é que se procederia se comprássemos a casa trabalhando fora do país.

Foi-nos explicado tudo direitinho, quais os documentos que precisávamos, fizemos simulações preliminares e a informação era favorável, exceto de um ou outro ponto burocrático sob o qual não valia a pena pensar antes de ter o negócio a ser concretizado.

Sabia que éramos clientes interessantes do ponto de vista bancário. Não pedíamos a totalidade do valor dos imóveis que pensávamos comprar, não pedíamos valores absurdos, tínhamos salários anuais interessantes, ambos qualificados em áreas tecnológicas e, acima de tudo, tínhamos 25 anos. O risco de clientes como nós, no ponto de vista bancário, é mínimo. O próprio banco reconhecia isto e a relação que se começava a construir era interessante.

Corria tudo muito bem até ao dia em que, ao ver o negócio tornar-se cada vez mais uma realidade, fui falar com a gestora bancária com quem mantinha contacto, e ela estava de férias. Então, fui atendida por uma colega que se inteirou do caso e pormenorizou as burocracias. Obrigavam-nos a traduzir o contrato de trabalho num tradutor oficial e reconhecido pelo consulado. A coisa ficar-nos-ia por mais de 1000 euros. Sabíamos que outros bancos (e mesmo outros balcões) facilitavam o processo. Foi aí que exigi que resolvessem a situação internamente. E assim foi, como contei AQUI.

O processo começou cinco dias depois de ter assinado o contrato de promessa compra e venda. No entanto, era agosto e a informação do gestor da Alemanha chegou cá seis semanas depois, em vez de duas. Quando chegou, uma vez mais, a primeira gestora de contas estava de férias e o processo foi entregue noutras mãos. Caiu nas mãos erradas. Passei-me com a falta de profissionalismo da senhora desde o primeiro momento, mas fui uma pessoa civilizada e crescida: mantive-me serena e acreditei que era só choque entre a minha personalidade e outros pontos de vista.

No final das contas eu estava certa. Mesmo depois de lhe explicar que poderíamos adiar o prazo do contrato de promessa, ela garantiu-nos que tudo seria tratado dentro do prazo. Marcou-se a escritura e uma semana antes recebi os documentos a assinar. Quando os abri, percebi que o caldo estava entornado. O spread que a senhora queria que eu assinasse era 2% superior ao das simulações. Atenção que não era o spread que pagaríamos a curto prazo, ainda assim eram as condições com que eu tinha de levar daqui a uns anos porque, teoricamente, era a única hipótese.

Falei com a senhora, mantive o meu tom calmo e paciente e ela tentou fazer-me de burra. Tudo menos isso, meus amigos. Se eu não sei, eu assumo, mas depois de estar informada, procurar saber e até pedir aconselhamento em paralelo, não me façam passar por burra. Estava tão passada, tão passada, que a coisa escalou. Isto chegou a ouvidos de pessoas várias e quando dei por mim, tinha o telefone do gerente, chefe da senhora que tratava do caso, e carta branca para lhe ligar mesmo à hora de jantar.

Foi o que aconteceu. E, pronto, o senhor que reconhecia todas as asneiras feitas, que reconhecia o quão bom negócio isto era para o banco, mexeu cordelinhos e mudou tudo.

No final não ficou tão bem como podia, estamos a pagar mais juros do que pagaríamos se tivéssemos mais um mês ou dois. Mas era isto ou pôr em risco perder o negócio e o interesse por parte do vendedor. Desse lado estava muito mais dinheiro em risco e, por isso, decidimos prosseguir desta forma. Foi uma questão de medir os riscos e perceber quais as consequências mais favoráveis.

Foi uma semana sem fim e uma (muito) má experiência com a falta de profissionalismo, com a confusão do que é pessoal e do que não é.  Sou um bocado intransigente com isso. Mais piora quando acham que sou uma miúda e me tratam com paternalismos, acham que não compreendo. Bem, enquanto considerar que a falta de informação ou a falta de desenrasque não sejam coisas que me faltem, não vou sossegar enquanto tiver argumentos racionais.

No final das contas, o banco conseguiu que eu não mudasse (por enquanto) de balcão, que não apresentasse uma reclamação por todas as vias possíveis e imagináveis. Mas, ainda assim, vamos perder um pouco mais de dinheiro do que perderíamos se tudo fosse bem feito. Mas não perdemos um bom imóvel, a preço justo, nem a entrada que demos por ele.

Esta história é um resumo do que eu considero ser uma sociedade civilizada: comprar as guerras que mais fazem sentido, valorizar e ter consideração o esforço humano posto na correção de erros e, acima de tudo, resolver o que quer que seja sem perder um tom calmo e ponderado. É difícil, mas é possível. 

Havia cozinha, mas já não há

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Havia uma cozinha no apartamento que compramos. Mas era preta e brilhante, o que significa que ia passar a vida nojenta e cheia de dedadas. Acreditem, eu conheço-me. Essa cozinha parecia nova e bonitinha, mas tinha um balcão em contra placado coberto por plástico, já meio partido. Tinha ainda uma coisa fantástica, um mau acabamento no canto em que os móveis terminavam. Sobrava espaço e até se via a canalização do exaustor.

Conclusão: a dita cozinha foi para o OLX ainda no dia da escritura. Dois dias depois estava vendida, graças à minha irmã-rainha-do-OLX, e os atuais donos já a foram buscar. Assim, fácil e rápido! Ficamos todos felizes: eles com uma cozinha barata, nós com mais uns trocos.

Já disse que adoro o OLX?